No Público de 30 de Janeiro de 2010 consta uma entrevista com um especialista em Psicologia do Trabalho e da Acção, Christophe Dejours, professor no Conservatoire National dês Arts et Métiers, em Paris. Mereceu a nossa particular atenção precisamente por tudo o que se esteve e está a passar no ensino em Portugal no que se refere aos professores e ao sistema de avaliação que vimos reflectidos no referido artigo.
Este especialista pertence a “uma das raras equipas no mundo que estuda a relação entre trabalho e doenças mentais”. Verificou-se recentemente “a emergência de suicídios e de tentativas de suicídio no próprio local de trabalho…o facto de as pessoas irem suicidar-se no local de trabalho tem obviamente um significado.” Deixa, efectivamente, uma mensagem inequívoca sobre as razões que estão por trás desse acto derradeiro, que nada teve a ver com razões de vida pessoal e segundo o mesmo especialista, quem o pratica, muitas vezes não teve no seu passado qualquer problema de ordem psicopatológica.
De acordo com o estudo, efectuado por este Psiquiatra, o fenómeno tende a afectar principalmente “… os que gostam do seu trabalho, …os mais envolvidos profissionalmente”. Na base está a forma como as empresas se organizaram: “ a introdução de novos métodos de avaliação do trabalho, em particular a avaliação individual de desempenho…A avaliação individual é uma técnica extremamente poderosa que modificou totalmente o mundo do trabalho… as pessoas estão agora a competir entre elas, o êxito dos colegas é agora uma ameaça… as pessoas aprendem a sonegar informações … aos poucos… a atenção aos outros, a consideração, a ajuda mútua – acabam por ser destruídos. As pessoas já não se falam, já não olham umas para as outras. E quando uma é vítima de uma injustiça, quando é escolhida como alvo de um assédio, ninguém se mexe… ”
Se juntarmos a isto um sistema de cotas fomentador da competição por salários mais altos está montado um verdadeiro cocktail molotov.
Numa escola não cabe o individualismo. É essencial o trabalho de equipa, a solidariedade e o espírito de entreajuda. Estes valores são fundamentais para um bom ambiente, fomentador de boas práticas e de um ensino de qualidade.
À luz desta entrevista é importante fazer uma reflexão séria sobre as consequências a médio e longo prazo da aplicação do sistema de avaliação individual dos professores bem como do sistema de cotas. Trata-se da lógica empresarial aplicada onde nunca deveria ter posto o pé. Trata-se de encarar a escola como se encara uma linha de montagem – quem fabricou mais sucesso escolar!?
Além de ser obviamente fatal para a forma de funcionamento das escolas, este sistema tem tudo para levar à tragédia: conduzirá à degradação do ambiente entre os professores; comerá aos poucos os princípios por que se rege a vida escolar e no fim deixará apenas desolação, isolamento, frustração...