domingo, 8 de dezembro de 2013

Estória de um desmantelamento ou o novo ensaio sobre a cegueira

Muita tinta tem corrido nos últimos tempos sobre a questão do cheque ensino. Uma armadilha que, como todas as armadilhas, tem sempre um aliciante. A possibilidade de colocar os filhos num colégio privado e… está na ordem do dia, poupar dinheiro ao estado. Pura mentira. Trata-se apenas e tão-somente de desviar o dinheiro público para o privado. Coisa que já não é novidade noutros setores da sociedade como a saúde, transportes, eletricidade, estradas, em suma, setores chave da vida das populações.  
Vamos então ao início da nossa estória. Era uma vez um ministério que decidiu humilhar os professores do ensino público, procurando virar a opinião pública conta eles. Tratava-se de evidenciar que o ensino privado era melhor. Primeiro engodo da armadilha. No privado escolhem-se os alunos e os que tem piores resultados são convidados a sair. Assim é fácil fabricar sucesso.
Infelizmente, para esse ministério, alguma coisa correu mal. As pessoas não tinham dinheiro para colocar os filhos em colégios privados. Esses acontecimentos deram-se simultaneamente com a destruição da classe média e nesses anos muitos pais viram-se obrigados a retirar os filhos do privado e a colocá-los no público.
Então havia que arranjar outra forma de financiar os seus propósitos. Eis que surgiu a ideia brilhante do cheque-ensino. O Ministério daria dinheiro às pessoas e assim elas já podiam pagar os colégios privados. Brilhante… Entretanto fazia parte do plano ir retirando cada vez mais apoio ao ensino público, degradando cada vez mais as suas condições: fazendo a vida cada vez mais difícil aos professores, reduzindo os seus recursos, aumentando o número de alunos por turma.
Em que aspecto o cheque-ensino irá melhorar a qualidade de ensino das novas gerações? Bom, na Suécia, onde já se começou a utilizar à dez anos o sucesso escolar tem vindo a caiu a pique, de acordo com o último relatório PISA, será que iremos cair também, cegamente, na mesma armadilha?

  


quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Duas atuações da Tuna du Bocage

RLAhwhttps://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Lys6H-RLAhw

Relatório PISA chumba política de Nuno Crato


O ministro da Educação tem argumentado com o "facilitismo" da escola pública e a "liberdade de escolha" para promover o privado na Educação, tomando a Suécia como modelo. Mas os resultados do relatório de referência da OCDE arrasam por completo essas teorias.
Comparação da pontuação de Portugal e Suécia nos rankings do relatório PISA de 2003 e 2012
O relatório PISA 2012, divulgado esta terça-feira pela OCDE, conclui que a presença de escolas privadas não é sinónimo de melhor desempenho dos alunos ou de mais qualidade educativa. O país que Nuno Crato aponta como farol da sua política do cheque-ensino - a Suécia - foi dos que mais caíram nos rankings da OCDE tanto em Matemática como em Leitura e Ciência, passando para trás de Portugal. Comparando com o relatório de 2009, verifica-se que Portugal ultrapassou a Suécia nas três áreas deste ranking e o "país-modelo" de Nuno Crato foi mesmo o que mais caiu entre os 65 países sujeitos a esta avaliação. 
"Após ser considerado o status socio-económico, as escolas privadas não têm uma performance melhor do que as escolas públicas e as escolas que competem com outras por estudantes não registam melhores resultados que as outras que não competem", conclui a OCDE no seu relatório.
O ensino em Portugal, que Nuno Crato apelida de "facilitista", conseguiu entre 2003 e 2012 "aumentar a sua fatia de alunos com notas muito altas e ao mesmo tempo reduzir a fatia de alunos com notas muito baixas", indica ainda o relatório. No ensino da matemática, um dos alvos preferenciais de Nuno Crato, Portugal foi inclusive dos que mais subiram neste ranking nos últimos anos, atingindo a média dos países avaliados, na companhia da França, Noruega, Reino Unido, Islândia, Dinamarca, entre outros.
O relatório PISA elogia os resultados do modelo aplicado nos últimos dez anos no ensino da matemática, o mesmo que Nuno Crato quer extinguir sem fazer qualquer avaliação. A OCDE diz que "de forma consistente com a melhoria geral do desempenho em matemática", em 2012 os estudantes portugueses também reduziram os seus níveis de ansiedade face à matemática, em comparação a 2003. As reformas no sentido de apoiar e acompanhar mais os estudantes desfavorecidos economicamente, que conseguiram reduzir os chumbos no 9º ano de 21,5% para 12.8% entre 2004 e 2009, são também elogiadas pelo relatório agora divulgado.