Reflexão de quem já anda aqui há algum tempo…
E que não deixa de olhar para isto tudo com certo
espanto.
Bastante tranquilos, impávidos
e serenos, apesar de todas as injustiças que imperam no seu universo, o que foi
que lhes deu de repente?
Diria que saltou a tampa. A ameaça de transformar
o ensino público em mais um antro de "jobs for the boys" foi o
supremo insulto para os professores, depois de todas as injustiças de que têm
sido alvo.
Sentem-se como os destroços do naufrágio
recorrente, causado pelos sucessivos ministros e ministérios da educação que se
foram sucedendo, quer de uma força política quer de outra. E sabem que foram
eles que mantiveram o bote salva-vidas da educação à tona. Eles sabem! Quem
está de fora pode não saber, mas eles sabem!
Pau para toda a obra, guardiões de depósitos
infantis, máquinas, despesa lamentável, é assim que são vistos por quem os
governa.
Muito, mas mesmo muito haveria a dizer sobre
isto. Ordenados, roubo de tempo de serviço, vagas para subir escalões, cotas na
avaliação, sucessivas alterações curriculares ao sabor de cada ego, sem que o
que está a decorrer seja avaliado ou melhorado, tabua rasa. Se os professores
fossem computadores estava tudo bem, fazia-se um reset ao cérebro,
apagava-se o que lá estava e carregava-se novo programa, mas não são. Horários
de trabalho, falta de respeito, muito fomentada pela postura dos que nos
governam, etc.
Mas quero colocar o foco no artigo 3.º, do
Decreto Regulamentar n.º 26/2012 que procede ao regime de avaliação
do desempenho docente, que estabelece os seus objetivos. “A avaliação do
desempenho do pessoal docente visa a melhoria da qualidade do serviço educativo
e da aprendizagem dos alunos, bem como a valorização e o desenvolvimento
pessoal e profissional dos docentes.”
Gostaria mesmo que alguém me explicasse como o
atual modelo de avaliação, e sim, já passei por tudo aquilo a que tinha
direito, avaliação interna, avaliação externa, relatórios anuais de
autoavaliação, melhorou a qualidade do meu ensino? Eu faço reflexões frequentes
a partir da interação diária com os meus alunos. Investigo, estudo, faço formação creditada e por conta própria. Diria que a única coisa que
ali é avaliada é a minha capacidade de produzir lindos textos, e dai nem sei,
será que chegam a ser lidos?
Valorização? Onde está a valorização, quando um
professor sabe que pode ser muito bom ou até excelente no seu dia a dia com os
alunos, mas é avaliado por outro professor, ao longo de 180 minutos, muitas
vezes rebuscado à força e contrariado, para esse efeito? Quando é avaliado por
quem não tem formação especializada em avaliação? Quando a única coisa que o
seu avaliador tem a mais que ele é o seu tempo de serviço e estar num escalão acima? Quando a nota da sua
avaliação vai depender da boa vontade de quem o avaliou? Quando a sua avaliação
é totalmente subjetiva, porque para medir a competência não se pode usar uma
balança ou uma régua, quando depende de cotas, quando...quando...
Desenvolvimento? Onde está o desenvolvimento? A
esmagadora maioria dos professores faz tudo para que os alunos não sejam
prejudicados pelos erros dos que nos governam, são excelentes profissionais,
mas esbarram com as cotas na avaliação e com as vagas para subir para os
5º e 7º escalões. Quando a maioria dos que estão nos escalões mais baixos
nunca, em tempo algum. vão conseguir chegar aos últimos escalões, mesmo
que não “patinem” nas cotas e nas vagas, a não ser que se refirmem para lá dos
70 anos.
Se avaliássemos os alunos assim? Três alunos mereciam 5. "Desculpem meus anjos mas a cota só me permite dar um cinco, os restantes terão 4". Em cadeia, alguns quatros desceriam para três e teriam a mesma nota de alunos com 50% ou à volta disso.
As injustiças sucedem-se, umas atrás das outras.
Todos sabem que o atual modelo de avaliação é, na verdade, tutelado pelo
Ministério das Finanças e por opções orçamentais e a educação é vista, por
estes, como uma despesa, infelizmente, obrigatória. Podem embrulhá-lo em
lirismos sobre a valorização da carreira docente, mas sabemos que as intenções
que lá estão nunca passaram do papel em que foram escritas.
E depois dos professores serem pisados e
desconsiderados durante tanto tempo, o copo estava cheio e entornou, basta!