segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Ui...que se passa com os professores?


 

Reflexão de quem já anda aqui há algum tempo…

E que não deixa de olhar para isto tudo com certo espanto.

Bastante tranquilos, impávidos e serenos, apesar de todas as injustiças que imperam no seu universo, o que foi que lhes deu de repente?

Diria que saltou a tampa. A ameaça de transformar o ensino público em mais um antro de "jobs for the boys" foi o supremo insulto para os professores, depois de todas as injustiças de que têm sido alvo.

Sentem-se como os destroços do naufrágio recorrente, causado pelos sucessivos ministros e ministérios da educação que se foram sucedendo, quer de uma força política quer de outra. E sabem que foram eles que mantiveram o bote salva-vidas da educação à tona. Eles sabem! Quem está de fora pode não saber, mas eles sabem! 

Pau para toda a obra, guardiões de depósitos infantis, máquinas, despesa lamentável, é assim que são vistos por quem os governa.

Muito, mas mesmo muito haveria a dizer sobre isto. Ordenados, roubo de tempo de serviço, vagas para subir escalões, cotas na avaliação, sucessivas alterações curriculares ao sabor de cada ego, sem que o que está a decorrer seja avaliado ou melhorado, tabua rasa. Se os professores fossem computadores estava tudo bem, fazia-se um reset ao cérebro, apagava-se o que lá estava e carregava-se novo programa, mas não são. Horários de trabalho, falta de respeito, muito fomentada pela postura dos que nos governam, etc.

Mas quero colocar o foco no artigo 3.º, do Decreto Regulamentar n.º 26/2012 que procede ao  regime de avaliação do desempenho docente, que estabelece os seus objetivos. “A avaliação do desempenho do pessoal docente visa a melhoria da qualidade do serviço educativo e da aprendizagem dos alunos, bem como a valorização e o desenvolvimento pessoal e profissional dos docentes.”

Gostaria mesmo que alguém me explicasse como o atual modelo de avaliação, e sim, já passei por tudo aquilo a que tinha direito, avaliação interna, avaliação externa, relatórios anuais de autoavaliação, melhorou a qualidade do meu ensino? Eu faço reflexões frequentes a partir da interação diária com os meus alunos. Investigo, estudo, faço formação creditada e por conta própria. Diria que a única coisa que ali é avaliada é a minha capacidade de produzir lindos textos, e dai nem sei, será que chegam a ser lidos?

Valorização? Onde está a valorização, quando um professor sabe que pode ser muito bom ou até excelente no seu dia a dia com os alunos, mas é avaliado por outro professor, ao longo de 180 minutos, muitas vezes rebuscado à força e contrariado, para esse efeito? Quando é avaliado por quem não tem formação especializada em avaliação? Quando a única coisa que o seu avaliador tem a mais que ele é o seu tempo de serviço e estar num escalão acima? Quando a nota da sua avaliação vai depender da boa vontade de quem o avaliou? Quando a sua avaliação é totalmente subjetiva, porque para medir a competência não se pode usar uma balança ou uma régua, quando depende de cotas, quando...quando...

Desenvolvimento? Onde está o desenvolvimento? A esmagadora maioria dos professores faz tudo para que os alunos não sejam prejudicados pelos erros dos que nos governam, são excelentes profissionais, mas esbarram com as cotas na avaliação e com as vagas para subir para os 5º e 7º escalões. Quando a maioria dos que estão nos escalões mais baixos nunca, em tempo algum. vão conseguir chegar aos últimos escalões, mesmo que não “patinem” nas cotas e nas vagas, a não ser que se refirmem para lá dos 70 anos. 

Se avaliássemos os alunos assim?  Três alunos mereciam 5. "Desculpem meus anjos mas a cota só me permite dar um cinco, os restantes terão 4". Em cadeia, alguns quatros desceriam para três e teriam a mesma nota de alunos com 50% ou à volta disso. 

As injustiças sucedem-se, umas atrás das outras. Todos sabem que o atual modelo de avaliação é, na verdade, tutelado pelo Ministério das Finanças e por opções orçamentais e a educação é vista, por estes, como uma despesa, infelizmente, obrigatória. Podem embrulhá-lo em lirismos sobre a valorização da carreira docente, mas sabemos que as intenções que lá estão nunca passaram do papel em que foram escritas.

E depois dos professores serem pisados e desconsiderados durante tanto tempo, o copo estava cheio e entornou, basta!

 

Sem comentários: