sábado, 18 de outubro de 2008

Fuga para a Reforma




Este ano já foram embora seis professores e há mais 14 pedidos de reforma antecipada». O desabafo é de Rosário Gama, directora do conselho executivo da Escola Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra - que assume estar cada vez mais preocupada com a avalanche de saídas precoces de docentes.
Este estabelecimento tem ocupado o lugar de melhor escola pública nos rankings dos últimos anos, mas nem isso faz os professores desistirem de ir embora
A situação é de tal forma que, neste momento a escola já não tem um único professor de História nos quadros. “Estão a sair os docentes com mais experiência e estão a ser substituídos por contratados”, conta a directora apreensiva com o impacto das saídas na qualidade do ensino. “ Anda tudo cansado, sobretudo por causa do novo modelo de avaliação dos professores”, explica Rosário Gama, que também já pediu a reforma e deve sair ainda durante este ano lectivo.
De acordo com os dados do Sindicato Independente dos Professores (SINDEP), em 2008 já se reformaram 5.060 docentes. Destes, 2.045 saíram antes do tempo. É o que se passa com Helena Castro. Aos 59 anos, a professora de Português vai deixar a escola, com uma penalização de 9% na pensão. Apesar de oficialmente já estar reformada, continua a dar aulas “porque a Direcção Regional ainda não enviou um substituto” e por não querer prejudicar os alunos.
Para a saída, invoca várias razões. “A primeira é a relação com os alunos, que se degradou muito”, conta, recordando as consequências que o modelo de avaliação trouxe para as escolas: “Depois de distribuir os testes, houve uma aluna que me perguntou se eu não ia ser avaliada pelas notas que lhes dava e se tinha a certeza de que lhes queria dar aquelas classificações”. Foi a última gota: “Percebi que não estava ali a fazer nada”.
A avaliação do desempenho que Helena Castro considera “economicista” o facilitismo “dos exames e dos programas” e a “degradação da imagem dos professores, muito graças às políticas do Ministério da Educação” são outras razões para deixar a profissão.

De 2000 para 390 Euros

Carlos Chagas, Presidente do SINDEP, prevê que em 2009 “aumente muito o número de reformas antecipadas”. Os motivos são, segundo o sindicalista, “as péssimas condições de trabalho, a sobrecarga de tarefas burocráticas e o peso das reprovações na avaliação e evolução da carreira”dos docentes.
O sindicalista diz que a pressão é tão grande, que alguns professores terminam a carreira mesmo perdendo muito dinheiro. Carlos Chagas dá o exemplo de um professor de Idanha-a-Nova que se reformou com 391,88 euros – “quando a reforma normal ronda em média os dois mil euros”.

Margarida Davim in Semanário Sol de 11/10/2008

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